Homilia – Justiça que Transforma o Coração
Irmãos e irmãs,
Hoje ouvimos o convite de Jesus a uma “justiça que vem do coração”, que ultrapassa meras regras externas e alcança a profundidade das nossas intenções. Jesus nos exige mais do que observar a letra da lei: Ele quer que o amor transforme nossos motivos, nossas atitudes e nossas relações.
Como lembrar bem, a verdadeira purificação da intenção nasce do exame de consciência diário, uma prática recomendada por São Inácio de Loyola e muitas tradições espiritualistas. No final do dia, antes de dormir, somos convidados a reparar: por que fizemos o que fizemos? Fizemos tudo por fidelidade a Deus e ao irmão, ou por vaidade, conveniência ou medo?
Jesus nos alerta com clareza: “Quem se irrita com seu irmão estará sujeito a julgamento” (Mt 5,22) . Pensar que “não falou alto demais”, julgar as intenções alheias, manter ressentimentos — tudo isso revela uma justiça aparente, mas que ainda não chegou ao coração.
A reconciliação com o irmão é parte essencial desta justiça interior. O evangelho nos exorta: se alguém tem algo contra você e quer aproximar-se do altar, primeiro reconcilie-se com seu irmão . Reconquistar a paz com o próximo é condição para a comunhão com Deus.
Mas como viver isso, no dia a dia? Em três passos simples:
Examine suas intenções. Reserve um momento, em oração, para pedir ao Espírito Santo: “Revela a verdade do meu coração”. Relembre os gestos de amor e também os impulsos impuros – seja egoísmo, raiva ou indiferença. Faça esse exame com coragem e gratidão, reconhecendo que o Senhor quer purificar tudo.
Reconcilie-se com Deus e com os irmãos . Perdoe a quem magoou. Se existir alguém com quem você se desentendeu, mude: peça desculpas sinceramente, mesmo que o esforço pareça desconfortável. Esta coragem de reparar reflete a justiça do Reino – não uma paz fingida, mas uma paz construída no amor. Emocionalmente, somos chamados a soltar o peso da mágoa e deixar o perdão fluir.
Viva o amor com obras. A justiça cristã não fica apenas na oração. Ela exige ação. Como nos lembrar nas práticas do exame de consciência , somos chamados a perdoar, a acolher, a ajudar – não apenas com palavras bonitas, mas com gestos concretos: um abraço, uma mensagem de reconciliação, uma presença fraterna – tudo pelo poder de Cristo em nós.
Irmãos, que este dia seja um marco nas nossas relações e em nosso interior. Que cada um, com a graça de Deus, se atreva a realizar esse exame, abraçar a reconciliação e manifestar a verdadeira justiça do coração.
E façamos todos juntos a oração de São Francisco:
“Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz; onde houver ódio, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união...”
Sigamos, então, buscando a justiça que ama, que reconcilia e que permanece no coração — e que transformará nossas vidas e nossos relacionamentos.
Núncio Apostólico.
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